Walter, a filha Maria Eduarda e a esposa Adriana no CT Joaquim Grava (Foto: Diego Ribeiro)
Walter carrega a cada partida na arena a maior de suas vitórias. A filha
Maria Eduarda, de pouco mais de um ano, mudou a vida da família e se
transformou em um símbolo para quem chegou a colocar a carreira em dúvida.
Com
ela nos braços no caminho dos vestiários até o gramado, o goleiro não sofreu
gols em Itaquera. Aliada melhor não há para quem ganhou a posição de titular do
amigo Cássio e luta para ser um novo ídolo da Fiel.
– Ela entrou em campo comigo já com dois meses e depois não
levei mais gols. São cinco jogos apenas (Atlético-MG, Vasco, Novorizontino, Grêmio e
Ponte Preta), mas está dando sorte. Então, vamos manter – afirmou Walter, antes
do clássico desta quarta-feira, contra o Santos, às 21h, na arena alvinegra.
Maria Eduarda ainda não faz ideia do que aconteceu, mas o
papai-goleiro vive dias agitados. De forma inesperada, Tite decidiu mexer em
uma posição quase intocável. Colocou Cássio, ídolo e campeão de quase tudo no
clube, no banco. Deu a Walter a oportunidade que ele mesmo nem
sonhava ter depois de ser rebaixado duas vezes em um curto espaços de tempo
no interior de São Paulo.
– É coisa divina. Não tem explicação. É algo sobrenatural.
Se pegar a história de muitos jogadores, nenhum tem duas quedas e depois chegou
a um time grande. Não é por trabalho ou por ajuda. Foi Deus que me trouxe aqui.
Nesta entrevista ao GloboEsporte.com, Walter mostra não se sentir pressionado
com a maior chance da carreira e revela a conversa que teve com Cássio logo
após o anúncio feito por Tite no CT Joaquim Grava. A disputa pela vaga continua
aberta, mas a amizade entre os goleiros segue inabalada.
– É uma oportunidade de entrar e fazer o meu melhor. Tenho de estar bem em todos
os jogos. Aqui e em todos os clubes maiores a cobrança é muito grande. Em um
dia, você não vale nada. No outro, é o melhor em campo, o rei. Tem de saber
assimilar – disse.
Confira a entrevista com o goleiro Walter:
GLOBOESPORTE.COM: Você jogou seguidamente contra Grêmio, Vitória, Ponte Preta e Sport. O que muda na vida de um goleiro titular do Corinthians?
Walter: Ser titular é outra situação. Minha vida mudou mesmo depois que cheguei ao
Corinthians. Fui mostrando meu potencial, sendo parceiro de todo mundo,
ajudando todo mundo. Agora é tentar colher os frutos e ver o que vai dar ao
longo do campeonato.
Mas a responsabilidade aumenta…
Peso mesmo tinha quando eu entrava em um jogo e precisava dar conta do recado.
Depois que você tem uma sequência de jogos, acaba ganhando a confiança do
grupo. Entro agora com um peso nas costas muito menor do que se fosse em uma
partida só. Teste mesmo foi contra Criciúma (estreia), Grêmio (Copa do Brasil
2013) ou Atlético-MG e Flamengo (ano passado), entrando no meio dos jogos.
Essas partidas me deram tranquilidade para hoje render ao máximo.
Walter acende velas nos vestiários da arena (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
Qual foi seu maior teste no Corinthians?
Acho que foi minha estreia (contra o Criciúma). Eu tinha jogado há quatro meses e logo depois fui para o jogo do Grêmio (pegou um pênalti, mas o Corinthians foi eliminado da Copa do Brasil). Mas acho que a confiança do torcedor e da comissão eu ganhei contra o Atlético-MG (Brasileiro de 2015). Fazia cinco meses que eu não jogava, tinha entrando só contra Palmeiras e Flamengo. Precisávamos ganhar, e fiz defesas importantes.
É mais difícil trabalhar com um goleiro como o Cássio no banco?
Pô, quantos títulos o Cássio tem? Não dá nem para contar. É difícil entrar no
lugar dele, mas tenho de fazer o meu melhor. Não é pela pressão de ele estar no
banco, mas por você precisar sempre estar em alto nível. Ele é um grande
goleiro. Qualquer erro meu podem pedir a volta dele. Todos os goleiros estão
sujeitos a falhar, mas preciso estar sempre com a cabeça voltada para a partida
e continuar jogando.
Quando recebeu a notícia de que seria o novo titular?
Foi para mim e para o Cássio, quinta ou sexta-feira. Sentamos com a comissão, e
ele (Tite) avisou sobre a troca. Foi bem sadio.
Você se surpreendeu?
Sim. Eu também não sabia. Como o Cássio não sabia que sairia, eu não sabia que
entraria. É uma oportunidade de entrar e fazer o meu melhor. Tenho de estar bem
em todos os jogos. Aqui e em todos os clubes maiores a cobrança é muito grande.
Em um dia, você não vale nada. No outro, é o melhor em campo, o rei. Tem de
saber assimilar.
Depois disso, você e o Cássio conversaram?
Vocês sempre se deram bem, até passam finais de semanas juntos…
Quando tivemos a noticia, saímos da sala. Eu já estava indo embora, tinha
tomado banho. Ele me passou um recado para ficar tranquilo e seguir meu
trabalho, que estava feliz por isso, mas chateado por sair. Foi uma conversa
sadia, normal, como todos os dias. Foi 100%, tranquilo, cada um buscando seu
lugar.
No Barbarense, eu recebi o
mês de novembro, metade de dezembro e depois fiquei até abril sem ganhar nada,
até o fim do Paulistão. Até hoje não recebi. Não tinha como. Pensava mesmo que
o melhor era voltar e trabalhar no bar do meu pai
Walter, novo goleiro titular do Corinthians
Você acha que é uma troca definitiva?
Como ele saiu e eu entrei, eu posso sair para ele entrar de novo. Já trocamos
vários jogadores e não há titulares absolutos aqui. Temos de trabalhar com
alegria, personalidade e conversando sempre olho no olho.
Depois de tudo isso, você vira titular e leva três gols do Vitória. Passou pela cabeça que tudo poderia mudar novamente?
Fiz uma boa atuação contra o Grêmio, segura. Contra o Vitória, sofremos os gols
em erros. Poderia ter sido melhor. Erramos a linha de impedimento. Não foi pelo
erro de um ou outro, acabou sendo geral. Sabíamos que poderíamos melhorar e já
estamos há dois jogos sem sofrer gols novamente.
Mas agora existe um amuleto da sorte na arena. Você não sofreu gols quando entrou em campo com sua filha nos braços.
Ela
entrou comigo já com dois meses e depois não levei mais gols. São
cinco jogos apenas, mas está
dando sorte. Então, vamos manter.
É um pai participativo?
Ajudo bastante, troco fralda, dou banho, faço de tudo. Quando
minha mãe e minha sogra estão em casa, aí dá pra ficar deitado um pouco no
sofá. Se pudesse, teria tido ela antes. Agora, o pensamento é ficar nela só (risos).
Há quatro anos, você estava sendo rebaixado com o XV de Jaú para a última
divisão do Campeonato Paulista. Como foi essa transformação?
Voltar para o XV foi uma luta. Eu estava na Primeira Divisão do Gauchão, pelo
Novo Hamburgo, e o clube queria renovar meu contrato. Meus pais sempre falavam
para voltar porque as coisas dariam certo no XV. Você vai acreditar que vai dar
certo na Série A-3? Mesmo caindo com o XV, fui para o rival, o Noroeste, e ganhamos a
Copa Paulista. No ano seguinte, caí com o União Barbarense para a A-2 e vim
para cá. É coisa divina. Não tem explicação. É algo sobrenatural. Se pegar a
história de muitos jogadores, nenhum tem duas quedas e depois chegou a um time
grande. Não é por trabalho ou por ajuda. Foi Deus que me trouxe aqui.
Cássio e Walter durante treino do Corinthians nos Estados Unidos (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
Pensou em parar? Você chegou a trabalhar no bar do seu pai,
em Jaú…
Em 2011, eu treinava com o preparador de goleiros João Luiz Tegon e depois
ficava ajudando meu pai. Mesmo no União Barbarense, eu pensei muito em parar. Batalhava
muito, mas não saía daquela situação. No meio do campeonato não aparecia nada.
Ficar batendo de porta em porta em times pequenos não compensava. No Barbarense, eu recebi o
mês de novembro, metade de dezembro e depois fiquei até abril sem ganhar nada,
até o fim do Paulistão. Até hoje não recebi. Não tinha como. Pensava mesmo que
o melhor era voltar e trabalhar no bar do meu pai.
E agora, titular do Corinthians, o que é possível planejar?
Uma chance na Seleção?
Tá doido! E muita coisa em uma semana só. Primeiro, tenho que trabalhar aqui,
conseguir ficar o maior tempo possível jogando. Time grande tem de pensar em
ser campeão. O que marca a carreira de um jogador é ser campeão.
Walter concede entrevista no CT e brinca com a filha Maria Eduarda (Foto: Diego Ribeiro)
Fonte: Globo Esporte