No início da temporada 2016, o Atlético-MG anunciou acordo com um novo fornecedor de material esportivo: a canadense Dryworld. O contrato assinado é o maior da história do Galo, no valor de R$ 100 milhões por cinco anos. Desde a chegada da empresa ao Brasil e das primeiras conversas, há uma desconfiança por parte do clube em relação aos grandes valores prometidos pela empresa, que estava entrando em um mercado desconhecido, já que, até então, atuava apenas no segmento do rúgbi ou de patrocínios individuais, principalmente na América do Norte. A desconfiança, por alguns motivos, se transformou em descontentamento.
O primeiro deles é o atraso no fornecimento de material esportivo. Os jogadores das categorias de base do Atlético-MG, por exemplo, ainda estão entrando em campo com os uniformes da antiga fornecedora de material esportivo do clube: a Puma. O CEO (chefe-executivo) da Dryworld, Claudio Escobar, assumiu que há uma dificuldade com a distribuição dos uniformes, mas disse que o prioridade da empresa é a equipe profissional e os torcedores. E lembrou, ainda, que a empresa está no mercado há poucos anos – foi fundada em 2010.
Matt e Claudio Escobar, homens fortes da Dryworld no Brasil (Foto: Edgard Maciel de Sá)
– Temos que lembrar que temos em nossas mãos uma equipe que tem uma
capacidade incrível de torcida. Já colocamos no mercado mais de 360
mil camisas do Atlético-MG. Recebemos dos parceiros uma quantidade de pedidos maior do que outros fornecedores venderam nos anos passados. Temos uma situação
de demanda e fornecimento a curto prazo. Temos uma equipe de caráter
internacional que precisa de uma atenção especial, e nosso foco é a equipe
profissional e o mercado. Todas as empresas têm que fazer algumas decisões em momentos
de começo. Estamos arrumando nossa casa para fornecer para toda a base de maneira
adequada.
O principal problema, porém, é de ordem financeira. Além do contrato milionário com o Galo, a empresa ajudou o clube na contratação do atacante Robinho e na permanência de Lucas Pratto, além de assinar um contrato vitalício com Luan. O momento financeiro da empresa, porém, não é dos melhores, como apontam alguns indícios. Para produzir os materiais esportivos no Brasil, por exemplo, a Dryworld comprou a Rocamp, empresa têxtil com sede no Paraná e conduzida por Edson Campagnolo.
Uniforme para 2016 foi apresentado em fevereiro (Foto: Bruno Cantini/CAM)
Contatado pela reportagem, Edson assumiu que a relação entre as duas empresas não vive bom momento, mas não quis entrar em maiores detalhes.
– Eles (Dryworld) vieram para o Brasil com uma proposta, a gente fez uma sociedade
com papéis específicos entre as partes, mas não está andando a contento (a relação). Há uma situação que eles vão ter que explicar para o clube e para o mercado.
A reportagem, então, questionou Claudio Escobar sobre os compromissos financeiros entre empresa e o Atlético-MG, mas o CEO desconversou. E reafirmou que a empresa está trabalhando para superar a crise financeira mundial.
– A Dryworld é uma empresa internacional que está enfrentando uma situação
mundial. Estamos em um país onde as coisas têm
uma burocracia que cria algumas situações para as empresas. Em quatro
meses (no Brasil), já estamos em três equipes (Atlético-MG, Fluminense e Santa Cruz). Colocamos
jogadores brasileiros de caráter internacional como prioridade. Acredito que a gente está alcançando as expectativas.
Nós não somos blindados das
situações do Brasil e mundiais. Estamos aprendendo a contornar tudo isso de
maneira rápida, com devido respeito que temos aos nossos clientes e parceiros,
como é o Atlético-MG.
Diretor jurídico do Galo: clube tem instrumentos contratuais para se proteger (Foto: Tayrane Corrêa)
Galo protegido
Caso aconteça algum atraso de pagamento por parte da Dryworld, o Atlético-MG está juridicamente prevenido. É o que garante o diretor jurídico do clube, Lásaro Cunha, que não entrou em detalhes, já que o contrato tem um cláusula em que as partes firmam o compromisso de não revelar detalhes do acordo, mas disse que o clube adotou as cautelas necessárias para se proteger.
– Obviamente, o Atlético-MG tem instrumentos contratuais para se proteger e adotou cautelas para isso nos limites do mercado.
O Atlético-MG, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que o clube se resguarda com diversas cláusulas de confiabilidade descritas em contrato. No entanto, estes assunto são internos e tratados com sigilo pela alta cúpula do Galo.
O presidente Daniel Nepomuceno classificou o problema como “normal” e critica o que ele considera como “muita fofoca”.
– Normal. Futebol é cheio de problema. Nós estamos tentando
solucionar os problemas com as franquias ou mesmo nas semanas que atrasam para
o clube. Muita fofoca. Até agora a parceria está bem.
Robinho foi a grande contratação do Atlético-MG para a temporada (Foto: Bruno Cantini/CAM)
Nepomuceno comentou, ainda, sobre o fato de os jogadores das categorias de base ainda usarem uniformes do antigo fornecedor (Puma).
– A base foi campeã. E é isso que importa, levantar o caneco.
Mas a fábrica é nova. Estamos aí, no sexto mês. A gente espera que a categoria
de base, mesmo na linha infantil, que chega às lojas, isso tem prazo para poder
trazer a solução. Vamos aguardar nas próximas semanas e a resposta que eles têm
que passar para o clube é que tudo tem que ser normalizado.
Salário Robinho
Segundo Marisa Alija, advogada e representante de Robinho, os pagamentos do atleta estão perfeitamente em dia. Ela disse, ainda, que a Dryworld não tem nada a ver com o salário do atleta, nem com direitos de imagem. Há um vínculo entre empresa e jogador, mas não é para pagamento de salário. Marisa foi sucinta quando questionada se há algum problema entre a fornecedora e o jogador, mas desmentiu qualquer atraso ou dívida.
– O salário dele não tem nada a ver com a Dryworld, nem os direitos de
imagem. Ambos estão perfeitamente em dia. Não temos problema nenhum nem com a empresa e
nem com o Atlético.
Fonte: Globo Esporte