No começo, foi uma questão de aposta. De um lado, um time que vivia com problemas financeiros. Do outro, um jogador de apenas 22 anos que pertencia à Matonense-SP e tinha disputado a terceira divisão do Campeonato Paulista pela Ferroviária de Araraquara-SP. Naquele ano de 2001, no dia 17 de julho, pouco depois de ter se profissionalizado, Grafite virava a bola da vez no Santa Cruz. Seria o primeiro momento de uma história de idas e vindas que tem seu capítulo mais recente na atual temporada, em que o atacante vem brilhando com a camisa coral. Trajetória marcada por sabores bem diferentes entre o auge – para o atleta – e o fundo do poço – para o clube.
Na disputa da Série A daquele ano, Grafite marcou apenas cinco gols. Mas, por US$ 1 milhão, foi vendido ao Grêmio – transação tratada como um “negócio da China” por todos no Arruda. Afinal, o jogador era muito criticado pela torcida por não mostrar uma boa técnica e por enfileirar chances perdidas.
Porém, no ano seguinte, o clube gaúcho o emprestou novamente ao Santa. E a má impressão começou a ser apagada. Grafite marcou 11 gols em 15 jogos disputados. O Santa Cruz ficou em terceiro na primeira fase da Série B – não conseguiu subir porque foi eliminado no hexagonal final.
Depois, acabou indo para o Goiás – desta vez deixando saudades -, onde fez parte de um grande time formado por Cuca, hoje treinador do Palmeiras. Além de Grafite, o trio de ataque tinha Araújo e Dimba. No ano seguinte, foi para o São Paulo.
Foi quando a vida de atacante e clube acabaram tomando caminhos bem diferentes. O ano de 2005, até então, tinha sido o último em que o jogador e a Cobra Coral tinham sido felizes: Grafite, campeão da Libertadores e do Mundial pelo São Paulo, e o Santa Cruz, campeão pernambucano e com o acesso garantido à Série A.
Daí para frente, Grafite subiu a escada. E o clube caiu em um poço que parecia sem fundo.
O atacante foi campeão alemão e melhor jogador da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 2009, participou da Copa do Mundo de 2010 e foi ídolo nos Emirados Árabes e no Catar.
O Santa Cruz acumulou rebaixamentos e se, em 2006, disputava a Série A, estava na Série D em 2009. Não faturou nem estaduais. E só começou a ressurgir em 2011, quando conseguiu deixar a casta mais baixa do futebol nacional – do outro lado do mundo, Grafite era feliz no Oriente Médio encaçapando bolas na rede e petrodólares no bolso.
Até que em 2015, o consagrado camisa 23 atendeu ao chamado de volta. Escolheu o Santa Cruz. E, juntos, traçaram o retorno à Série A com uma reta final positiva de Série B. Além de títulos, algo que ele não tinha conseguido nas suas primeiras passagens: um deles, a inédita Copa do Nordeste. O outro, o Campeonato Pernambucano.
Agora, na atual edição da Série A, um começo promissor de competição. Grafite, com seis gols em quatro jogos, é o artilheiro da competição. E o Santa Cruz é o 3º colocado na tabela, com 8 pontos. Quanto ao futuro, resta saber se, desta vez, clube e jogador seguirão juntos na escalada por um patamar cada vez maior.
Grafite comemora o título da Copa do Nordeste (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)
Grafite comemora um de seus dois gols contra o Cruzeiro (Foto: Agência Estado / Clélio Tomaz)
Fonte: Globo Esporte