Juan Salgueiro é um cara de poucas palavras. Ao menos, públicas. Avesso a entrevistas, suas brincadeiras com os companheiros e o sorriso frequentemente escancarado no rosto chamam a atenção no dia a dia do Botafogo.
Tímido para algumas coisas, como posar para fotos e dar entrevistas, Salgueiro se comporta diferente longe das câmeras. Descontraído, com um ar levemente irônico, não demorou a se adaptar. Em pouco mais de três meses em General Severiano, constantemente é visto ao lado dos demais estrangeiros, principalmente o argentino Joel Carli.
Salgueiro em seu apartamento na Barra da Tijuca. Rápida adaptação ao Rio de Janeiro (Foto: Thiago Lima)
A relação também é boa com a garotada alvinegra. Aos 33 anos, o
uruguaio foi a principal contratação para o Campeonato Carioca. Os
elogios são frequentes, mas não dá para dizer que o atacante já caiu nas
graças da torcida. Em 17 jogos, foram boas atuações, duas assistências,
mas ainda não pintou o gol. Situação que incomoda, e Salgueiro espera
revertê-la neste domingo, diante do Fluminense.
– Tomara,
tomara. Quem sabe? Espero que sim. Nunca fiquei tanto tempo sem marcar.
Antes do Botafogo, apenas pelo San Lorenzo eu não havia marcado em minha
partida de estreia. Fiz gol em minhas estreias por Estudiantes,
Olímpia, Toluca, Necaxa… Aqui, não deu. Mas sigo trabalhando. Em algum
momento vai chegar e vou desfrutar – disse o uruguaio que, após a
conversa de cerca de 30 minutos com o GloboEsporte.com, em seu
apartamento na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, afirmou:
– O gol sai no domingo – brincou Salgueiro, que revelou ter se aconselhado com Loco Abreu antes de acertar com o Botafogo.
Filhos Augostina e Emiliano moram no Uruguai, mas costumam visitar o pai no Rio de Janeiro
(Foto: Reprodução / Instagram)
No Rio de Janeiro desde fevereiro, Salgueiro tem a companhia da mulher Tifanny – brasileira que conheceu no Paraguai -, e de Mochi, um cachorro da raça Beagle, nascido há dois anos no México, que Salgueiro carrega para onde vai. Os filhos Augustina (8) e Emiliano (4) moram no Uruguai, mas visitam o pai com frequência na cidade.
No dia a dia, porém, a convivência maior é com Ribamar, de 19 anos, companheiro de ataque que, se não tem idade para ser filho, poderia ser um irmão mais novo de Salgueiro.
– O Ribamar tem muito futuro. Ele vem bem. É um garoto que tem muita força, muita potência. Seguramente, vai crescer muito ainda. Tem tudo para ser um grande jogador. Como pessoa, é um bom companheiro. Tem muita gana – elogiou o uruguaio.
Como está seu português? Você sofreu bastante no início…
Está melhor. Aos poucos estou aprendendo. Se falam devagar, eu entendo. Quando falam rápido, não entendo nada. Não faço curso. No dia a dia, com os companheiros, vou entendendo e aprendendo umas palavras. Quando falam repetidamente alguma palavra que não conheço, pergunto para os companheiros. Perguntando e falando com os companheiros a gente vai aprendendo. Todos ajudam. Também ensino espanhol para eles (risos). Somos quatro (estrangeiros) no grupo. Com eles, só falo espanhol.
Você conhecia o Gervasio, o Lizio e o Carli antes de chegar ao Botafogo? Fora de campo o entrosamento entre vocês é muito bom.
Não. Sabia quem eram, mas não os conhecia pessoalmente. Mas nosso entrosamento é muito bom. Como estamos em um país estrangeiro, com outra língua, um acaba ajudando o outro. Nos damos muito bem. Todos têm filhos pequenos. Mas não só com eles, como também com todo o grupo. Há um bom ambiente desde que chegamos. Todos nos trataram muito bom.
Apesar de um dos mais velhos do elenco, Salgueiro está sempre brincando com os colegas (Foto: Vitor Silva / SSpress)
Vocês convivem fora do clube?
Não temos tempo. São muitos jogos. Quando volto para casa, quero ficar mais tranquilo, com minha mulher. É até um costume de uruguaios e argentinos, quando jogam no exterior, se juntarem para assar um churrasco. Mas aqui não temos muito tempo livre, são muitas viagens. Então na folga fico mais com a família. Eles eu vejo todos os dias nos clubes. Fora do clube não quero vê-los mais (risos).
Você falou em churrasco. Já provou o churrasco brasileiro?
Sim, gosto muito. Mas no Uruguai o churrasco é muito tradicional. O churrasco brasileiro é gostoso, mas o uruguaio é muito melhor (risos).
Falando agora de futebol, o que está achando de sua primeira experiência no futebol brasileiro?
Jogamos um torneio de transição, que foi o estadual. Sabemos que o Brasileirão é um torneio mais difícil. Temos que estar bem preparado, são muitos jogos seguidos. O campeonato está apenas começando, mas sabemos das exigências. Esperamos crescer jogo a jogo. O time está crescendo. Temos o objetivo traçado que é estar nas primeiras colocações.
O futebol brasileiro é o que você imaginava?
Não é muito diferente. Mas agora é a hora da verdade, com partidas mais duras, contra equipes melhores. Chegamos à final do Carioca, mas infelizmente não ganhamos. Agora vem o Brasileiro. Partida a partida vou me acostumando. Tenho fé de que vamos fazer um bom torneio.
O Botafogo chegou muito perto da conquista Carioca. O grupo sentiu a perda desse título?
Sim. Sempre quando se chega a uma final, todos querem ser campeões. Mas ninguém acreditava que o Botafogo chegaria. Ganhamos bem do Fluminense na semifinal. Infelizmente o título não veio, mas fortaleceu o grupo para o Campeonato Brasileiro.
Já conhecia o Ricardo Gomes? Como é trabalhar com ele?
Bom, bom. A verdade é que ele tem muita experiência como jogador e como treinador. É um dos grandes do Brasil. Ele me recebeu muito bem, assim como meus companheiros estrangeiros. Todos são muito agradecidos pela forma como ele nos recebeu.
O Ricardo sempre fala muito sobre seu posicionamento. Você prefere atuar como segundo atacante ou como armador?
Para mim é melhor vir um pouco mais de trás, mas tenho que me adaptar ao sistema de cada jogo. Ultimamente temos variado o esquema tático. O importante é poder jogar. O Ricardo estuda cada rival. Às vezes começo mais à frente. Mas me sinto mais confortável jogando no meio, com dois atacantes à frente.
Foi justamente nessa função que você deu o passe para o Neilton, que resultou na vitória contra o Atlético-PR.
Sim. Foi nessa função. Foi um bom passe, mas que só decidiu porque o Neilton finalizou muito bem. Espero que não seja a última assistência, mas sim a primeira.
Cachorro Mochi nasceu no México, se mudou para o Paraguai e agora curte o Rio (Foto: Thiago Lima)
Nota: Salgueiro já havia dado um passe para o gol de Carli, contra o Flamengo.
E quando sai o primeiro gol do Salgueiro pelo Botafogo?
Espero que neste domingo, no clássico. Tenho muita vontade de marcar esse gol. Nunca fiquei tantos jogos sem marcar gols. Mas a bola não está entrando. Até por ainda não ter feito gol, há uma pressão um pouco maior. O gol, quando vier, será muito bem-vindo. Mas estou consciente que hoje para mim é mais importante que a equipe consiga os três pontos do que eu marcar. Não adianta nada eu fazer um gol se o Botafogo não vencer.
Mas você nunca ficou tanto tempo sem marcar gol. Bate uma ansiedade a mais?
Antes do Botafogo, apenas pelo San Lorenzo eu não havia marcado em minha partida de estreia. Fiz gol nas minhas estreias por Estudiantes, Olímpia, Toluca, Necaxa… Aqui, não deu. Mas sigo trabalhando. Em algum momento vai chegar e vou desfrutar.
Quando você foi contrato, chegou com fama de carrasco do Fluminense, por ter marcado dois gols pelo Olímpia, que eliminaram o Tricolor da Libertadores de 2013. Esse gol saí neste domingo?
Tomara, tomara. Quem sabe? Espero que sim. Ganhamos dois jogos no estadual e empatamos outro. Queremos ganhar mais um, e espero marcar esse gol no domingo.
Está chegando mais um estrangeiro no Botafogo. Conhece o Canales, já o enfrentou?
Não o conheço pessoalmente, nunca nos enfrentamos. Sei que ele é um atacante, com boa técnica e é goleador. Ele vem para somar e será bem-vindo.
Salgueiro teve a oportunidade de conhecer o Maracanã, mas admite que derrota para o Vasco na final do Carioca doeu
(Foto: Vitor Silva / SSpress / Botafogo)
O Botafogo busca desde o início do ano esse camisa 9 mais experiente para ajudar a garotada. Como é jogar em um ataque com jogadores tão novos como Ribamar (19), Luís Henrique (18) e Neilton (22 anos)?
O Ribamar tem muito futuro. Ele vem bem. É um garoto que tem muita força, muita potência. Seguramente, vai crescer muito ainda. Tem tudo para ser um grande jogador. Como pessoa, é um bom companheiro. Tem muita gana. Espero que cresça muito no futebol, com gols, e mostre todo seu potencial.
O Botafogo tem uma história com uruguaios…
Muitos uruguaios e argentinos passaram pelo Botafogo. Dos estrangeiros sempre vão exigir mais. Mas fomos recebidos com muito carinho, e queremos retribuir essa confiança do torcedor do Botafogo.
Você é amigo do Loco Abreu. Chegou a falar com ele antes de vir para o Botafogo?
Sim. Ele gosta muito do Rio de Janeiro, e especialmente do Botafogo. Ele viveu grandes momentos aqui. Antes de eu vir, ele falou muito bem e disse que conhecia pessoas no Rio de Janeiro que poderiam me ajudar na adaptação. Muitos uruguaios passaram por aqui. Até por isso fiquei contente com a oportunidade. Falei com o Loco Abreu, com o Castillo, com o Navarro. Todos falaram muito bem do Botafogo. Com o Arévallos também, mas ele ficou muito pouco tempo.
E você pretende ficar muito tempo? Seu contrato vai até o final do ano.
Tenho contrato até dezembro. No futebol tudo depende. Hoje não te querem, amanhã já muda tudo. Tudo vai depender do rendimento. Será importante o que faremos no Brasileirão. O futebol é uma roda. Vou trabalhar e fazer o meu melhor.
E sua adaptação ao Rio de Janeiro?
A cidade é maravilhosa. O transito é um pouco pesado, perdemos um pouco de tempo para ir treinar. Mas com o tempo a gente se acostuma. Já fui à praia. É aqui perto. Quando tenho tempo livre, vou à praia. Não agora que está frio (risos). Mas agora, com muitos jogos, tenho ficado muito em casa no tempo livre. No máximo saio para jantar ou levo minha mulher ao shopping para tomar um café, até porque ela fica muito em casa. Nas folgas vamos à praia. Há três semanas fomos ao Cristo Redentor. Muito lindo, dá para ver toda a cidade. Eu tinha que ir, já estava há três meses aqui. Tinha vontade de conhecer.
E como foi estrear no Maracanã?
Nunca havia jogado no Maracanã. Eu conhecia apenas o Engenhão, pois já havia jogado contra o Botafogo em uma Copa Sul-Americana. O Maracanã é um estádio grandioso, com muita tradição. É especial para os uruguaios, pelo Mundial de 1950. Fiquei muito contente de jogar uma final do Carioca no Maracanã.
Fonte: Globo Esporte