
A Unimed-Rio saiu do Fluminense, mas o Fluminense não sai de
Celso Barros. Enquanto avalia a candidatura na eleição presidencial de novembro
no Tricolor, o pediatra vive um processo de perda de poder inédito nas quase duas
décadas que comanda a cooperativa de médicos. O ápice ocorreu na última quarta-feira:
uma assembleia convocada pelo Conselho Fiscal da empresa de saúde, com objetivo
de destituí-lo do cargo, só não foi realizada por impedimento da Justiça. A
disputa com a oposição, a ponta do iceberg de um processo de trocas de acusações
sobre a administração interna, pode ter desdobramentos na política das Laranjeiras.
Celso tem mandato até 2018 na Unimed-Rio – foi eleito pela
última vez em 2014, após assumir o cargo pela primeira vez em 1998. O Conselho
Fiscal, com seis membros eleitos a cada 12 meses, é integrado majoritariamente
pela oposição, algo jamais visto. As contas da empresa foram reprovadas em 2014
e 2015, fatos igualmente inéditos. A Agência Nacional de Saúde, para preservar
o direito dos clientes, renovou, em 23 de março, o Regime de Direção Fiscal iniciado
no ano passado, com o objetivo de acompanhar a solução de anormalidades
econômico-financeiras graves.
– A situação é grave. Não sabemos o que a Justiça vai
decidir, agora, há uma certeza: em ocorrendo a assembleia, a diretoria e o
conselho serão destituídos. Não há ninguém que seja capaz de defender o Celso e
a sua gestão – resume o dermatologista Flávio Luz, membro da oposição e
cooperado da Unimed-Rio.
+ Pedro Abad será o candidato da Flusócio na eleição tricolor em 2016
+ “Verdade Tricolor”: Pedro Trengrouse lança candidatura à presidência do Flu
+ Com discurso de união, Cacá Cardoso será candidato à presidência do Flu
A Unimed-Rio, via assessoria de imprensa, informou que não
iria se manifestar. Mesmo com o fim da parceria de 15 anos, em 2014, ainda se
relaciona com o clube. Busca na Justiça R$ 30 milhões, que julga a ter direito
na negociação de oito jogadores. Celso Barros mantém o discurso de indefinição
quanto à candidatura, apesar de, na semana passada, ter se reunido com grupos políticos e torcidas organizadas do clube. E entende haver uma tentativa de usar os problemas da
empresa para enfraquece-lo no pleito:
– Sou possível candidato. Quando lançar e se lançar, vocês
serão informados. Querem relacionar uma eventual dificuldade da Unimed-Rio, que é passageira, afinal, já apresentamos plano de recuperação, com
a minha possível candidatura, a que pode ser mais forte. Isso é má fé.

Tentativa de destituição
O artigo 50 do estatuto da Unimed-Rio, ao elencar as
competências do Conselho Fiscal, define a que embasou a tentativa de
destituir
Celso Barros do poder. Diz a letra ?h?: convocar a assembleia geral se
ocorrerem motivos graves e urgentes. Foi baseado nisto que decidiu
convocar uma
assembleia para destituir a direção de Celso Barros. A Unimed-Rio
conseguiu uma
liminar no TJ carioca impedindo a realização, ao alegar que o Conselho
Fiscal
não tem este poder. Os oposicionistas a derrubaram. Por mim, com um
mandado de
segurança, a reunião foi novamente impedida. Mesmo assim, 418 cooperados
se reuniram e trataram da situação da empresa. A expectativa é de que
nova
decisão seja proferida na semana que vem.
situação financeira
A Unimed-Rio tem 1 milhão de clientes. São 5,6 mil médicos cooperados.
Porém, desde 2014, a empresa passou a sofrer com dificuldades financeiras. Foi
descredenciada de hospitais, pacientes tiveram dificuldades de realizar exames
e procedimentos médicos. As contas de
2014 e 2015 foram reprovadas. Claudio Salles, candidato à
presidência, derrotado por Celso Barros, integra atualmente o Conselho Fiscal, é o principal opositor:
– O momento não é de falar com a imprensa. Temos de resolver
internamente.
Foi por causa do que definiu como ?anormalidades
econômico-financeiras graves? que a Agência Nacional de Saúde determinou a
adoção do Regime de Direção Fiscal em 25 de março de 2015 – foi renovado por
mais 365 dias em 24 de março de 2016. Trata-se de acompanhamento
presencial feito por agente nomeado pela ANS, sem poder gestão na
empresa – por isto, não é caracterizado como intervenção. Ele elabora relatórios, analisa medidas de
saneamento e avalia os dados contábeis e econômico-financeiros. A ANS alega
sigilo para não revelar dados, mas informa que cerca de 30% das operadoras
recuperam-se e voltam a funcionar normalmente após passarem pelo regime.
processos contra o flu
A Unimed-Rio anunciou o rompimento do contrato de patrocínio
com o Flu em dezembro de 2014. Porém, busca na Justiça ao menos R$ 30 milhões, valor
que entende ter direito nas negociações de Wagner, Wellington Silva, Jean,
Rafael Sobis, Digão, Thiago Neves, Cícero e Bruno. Os processos alegam que a
Unimed Participações SA (empresa criada para investir em jogadores) detinha
percentual dos mesmos. E que não recebeu nada quando o Flu os negociou. Em fase
inicial, as ações estão em debate. O Flu recentemente foi notificado.
Candidatos esperam Celso

Três tricolores já lançaram oficialmente candidatura ao pleito de novembro: Carlos Eduardo Cardoso (Flu 2050), Pedro Trengrouse (Verdade Tricolor) e Pedro Eduardo Silva Abad (Flusocio). Todos esperam a definição do quadro eleitoral, especialmente a eventual candidatura de Celso Barros – a de Mario Bittencourt, ex-vice de futebol, também pode alterar o cenário. Oficialmente, evitam falar, porém, entendem que o presidente da Unimed, homem responsável pela contratação de nomes como Petkovic, Romário, Thiago Neves, Fred, Conca, Rafael Sobis, Walter, entre outros, tem boa imagem com a torcida, até pela conquista do Brasileiro de 2010 e 2012 – serão os sócios que votarão no pleito. Um adversário, portanto, difícil de ser vencido. Até porque tem planos ambiciosos: ter Abel Braga como treinador, repatriar Conca e ter Washington e Deco como dirigentes.